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Prof. Alexandre de Sá Freire

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Clonar ou Não Clonar? Eis a questão

Nos anos de 2001 e 2002, a novela “O Clone”, exibida no horário nobre da televisão brasileira trouxe para dentro da casa das pessoas a discussão sobre a clonagem de um ser humano. Fica clara a intenção de questionar a validade de tal avanço científico. Porém, até hoje, o assunto ainda não foi discutido de maneira mais profunda e efetiva. Em parte é compreensivo que uma novela não aborde cientificamente o problema por ser apenas um romance sem maiores compromissos de divulgação ou formação de uma opinião mais embasada sobre o assunto. Por outro lado, fica uma imagem viciada dos cientistas como seres individualistas e não preocupados com o benefício da sociedade por meio de suas descobertas.
Vamos começar a falar sobre clonagem? Muito bem, a criação de um ser humano idêntico a outro como uma cópia “xerox” humana já vem sendo discutida no meio científico como sendo muito cara (em todos os sentidos) com relação aos benefícios que poderiam se originar desta descoberta. O primeiro mamífero clonado, a ovelha Dolly em 1996, muitas irmãs desta ovelha se perderam. Morreram entre 300 e 400 irmãos entre células que morriam antes de serem implantadas no ventre da ovelha mãe (ver figura) e mesmo depois de implantadas não vingaram. Apenas três, dentre todas estas tentativas, se desenvolveram dentro do útero materno. Porém, apenas uma (a ovelha Dolly) foi capaz de sobreviver e nascer. Este foi um resultado de anos de pesquisas publicado em 1997 na revista britânica “Nature”1.
Em 2000, foi clonado o primeiro mamífero brasileiro: a vaca vitória. O número de tentativas foi grande como o da ovelha Dolly. Recentemente, os coreanos clonaram cães rastreadores. Foram aproximadamente 1000 tentativa. Imaginem se todas estas tentativas foram necessárias para clonar animais menos complexos do que um ser humano, quantas tentativas seriam necessárias para clonar um ser mais complexo como o homem. Quantas gravidezes seriam necessárias? Quantas mulheres estariam dispostas a participarem de tais pesquisas? Estariam elas preparadas para assumir uma gravidez apenas em prol da ciência? Quanto dinheiro gasto! Valeria a pena? Qual a utilidade de se clonar um ser humano se há maneiras mais baratas e viáveis de se conceber um outro ser humano? Se pensarmos objetivamente, nem o fato de querermos a perpetuação da espécie ou o aumento da família justifica. Hoje em dia existem vários tratamentos possibilitando a gravidez até mulheres próximas da menopausa. Além disso, há ainda a possibilidade de adoção.
Todavia, as técnicas de clonagem não servem somente para fins de reprodução de um ser humano idêntico a outro. Existe, também, a chamada clonagem terapêutica. Temos no Brasil um centro de referência nacional e mundial em termos de pesquisa com células-tronco. Na Universidade do Brasil/UFRJ, o professor titular Radovan Borojevic2 dedica-se ao estudo da aplicação de células tronco.
E o que são células tronco? São células originalmente presentes na medula e que tem a capacidade de gerar os demais tipos celulares que temos em nosso organismo. Tais células podem ser retiradas de três origens diferentes: a) da medula óssea do próprio paciente; b) do cordão umbilical de recém-nascidos; c) de embriões resultados de fertilização em vitro (com três anos de guardados). A utilização das células-tronco de origem embrionária recentemente causou uma polêmica no Brasil, mas a legislação brasileira já permite a utilização destas células para pesquisa desde que sejam observados o seguinte fator: as células, guardadas em nitrogênio líquido (193oC negativos), tem que ter 3 anos ou mais de estocagem. Com esta “idade” a viabilidade de tais células para fins reprodutivos é quase nula. As células-tronco de cordão umbilical, assim como as embrionárias, tem um potencial enorme de diferenciar-se em tipos diferentes de células, mas estão restritas a utilização com bebês que nasceram após a sua descoberta. Contudo, as células-tronco de origem medular causaram menor polêmica e, por isso foram rapidamente aceitas e utilizadas em experimentos e aplicações clínicas.
Este tipo de pesquisa tem sua aplicação prática bem evidenciada quando pensamos nas intermináveis filas para transplante em todo o país. A partir de uma célula da medula óssea do paciente esta célula-tronco é capaz de regenerar uma grande parte de um tecido ou órgão. No hospital Pró-cardíaco e no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ – Fundão), no Rio de Janeiro, já se alcança 80% de sucesso no transplante de células tronco em pacientes com tecidos danificados no coração. Há ainda outras possibilidades de trabalhar com células tronco para regenerar outros tecidos para, por exemplo, restaurar a função do pâncreas e produzir insulina. Em São Paulo, a pesquisadora Mayana Zats tem uma vasta equipe trabalhando em pesquisas com células tronco. Este grupo também tem tido um sucesso expressivo e já é referência nacional e internacional nesta área de pesquisa.
A utilidade das técnicas da clonagem humana é mais evidente quando falamos em medicina regenerativa. Portanto, devemos observar atentamente o caminhar destes acontecimentos no campo da clonagem para que possamos formar nossas opiniões e assim ter maior poder de interferir nestes processos já que nós, a sociedade, devemos ser os maiores beneficiários destes avanços técnicos e científicos.
Nota de rodapé: 1) I. Wilmut A. E. Schnieke J. McWhir A. J. Kind & K. H. S. Campbell (1997) Viable offspring derived from fetal and adult mammalian cells. Nature 385, 810 – 813; 2) O Prof. Dr. Radovan Borojevic é Professor titular de Histologia e Embriologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade do Brasil/UFRJ e Coordenados do Programa Avançado de Biologia Celular Aplicado à Medicina.

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